chiba aldina

Algures no Barrocal, a chiba Aldina, velha matriarca do rebanho, velha demais para ser produtiva, mas não o suficiente que não deva servir de exemplo às sub-alternas, lidera o rebanho pela berma da estrada.

Impaciente, berra às mais novas que se afastam e alheam da missão em mãos (se é que se pode chamar mãos aos seus pés de cabra.)

O mato cresceu atrevido na Primavera, e agora que o Verão ocupou, sem cerimónia, o seu lugar, há que trabalhar com afinco e deixar as tolices para o horário pós-laboral.

A pouca distância de Aldina, suas chibas e cabritos, seguem mãe e filho. A velha, de roupão e chinelos, lenço na cabeça, conduz pela mão o filho (ou assim o entendo): homem feito, bom físico, mas cujo olhar acusa alheamento da realidade deste mundo.

Talvez para um olhar menos atento, se trate apenas de um bando de cabras, uma velha e um retardado:

-“Coitados… Miseráveis…” – dirão alguns menos atentos, tentado de imediato esquecer a visão…

Debaixo do dourado do ocaso, para olhares mais atentos, este retrato inspira plenitude, lucidez, comunhão, simplicidade, contentamento. Tento reter na memória a visão o máximo de tempo possível. E sigo viagem de sorriso no rosto.

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