As sementes carregam dentro de si as lembranças de vidas passadas e as ferramentas necessárias para criar o futuro.
Se todas as condições são favoráveis, o ciclo renova-se sem sobressaltos, seguindo assim a vida alegre e despreocupada.
No entanto, há sementes que, ou por terem características particulares, ou por terem sido “ejectadas” da planta mãe em condições menos favoráveis, não germinam com facilidade. Lá ficam, guardando o seu às de trunfo, aspirando a ganhar o jogo e não desperdiçando essa carta valiosa numa mão menor.
Afinal, uma semente só germina uma vez, e há que saber esperar pelo momento certo.
Esta história é sobre uma semente que guardava religiosamente o seu ás de trunfo.
Essa semente deixou-se ficar dentro da sua casca. Mas em vez de ficar quieta no seu canto, foi correndo o mundo, empurrada pelo vento, voando no bico de aves (umas mais circunscritas, outras migratórias), apanhando boleia no pêlo de algum cão, e até agarrada às solas de sapatos de humanos.
Testemunhou erros e sucessos alheios, e aprendeu a valiosa lição: às vezes as coisas não são o que parecem.
Assim, no momento em que julgou ver surgir na mesa de jogo a oportunidade perfeita, agarrou nervosa as suas cartas junto a si, preparando-se para sacar do ás e batê-lo orgulhosamente na mesa. Mas a experiência de vida que juntou ao longo das suas viagens, fê-la decifrar o tique que o Mundo tem antes de nos passar a perna. Ele estava a lançar uma isca para que ela gastasse o seu ás de trunfo naquela jogada e ficasse sem a carta que lhe daria a vitória da partida.
As experiências vividas dentro da sua casca, ensinaram-na a saber esperar, pacientemente, pelo momento certo.
Saber esperar. A grande lição de vida que o Mundo lhe deu.
Um dia, o seu ás de trunfo vai fazê-la ganhar o jogo, e trazer para casa o pote com tudo aquilo que precisa para germinar, dando finalmente inicio a um novo ciclo.
